terça-feira, 8 de março de 2011

O Anel

 Prestes a completar dez anos, Maria Clara se sente entusiasmada com os preparativos para sua festa de aniversário. Madalena, avó que criara Maria Clara, espera por aquele momento com mais entusiasmo que a própria neta, será enfim o dia em que ela dará a sua pequena Clarinha (como ela a chamava) o tal anel de prata que ela ganhara de sua tia Ruth quando ela havia apenas doze. Aquele anel significara mais que um simples anel, ela o tinha como a única lembrança viva daqueles momentos em que passara com a tia, a única em que ela confiava, a única que lhe dava escondido os doces antes das refeições, a única que lhe fazia tranças sem lhe apertar os cabelos, e o mais importante a única que lhe ensinara como o rir era mais importante que o chorar. Madalena queria poder compartilhar com Clarinha tudo o que ela havia aprendido com tia Ruth, queria poder lhe ensinar sobre a vida, mas isso ela já fazia. Madalena mais que depressa sai a procura de uma caixinha que fosse à altura do anel, para o embrulho. Em uma loja encontra uma caixinha de música branca com detalhes em salmão que lhe chama atenção, era essa mesma caixinha em que tia Ruth havia lhe dado aquele anel, mas como? Como era possivél uma caixinha de mais de cinquenta anos aparecer numa lojinha de material escolar? Mas é claro que ela estava sonhando, a caixinha apenas lhe trouxe de volta mais uma lembrança da tia. Nem preciso dizer que Madalena nem exitou ao pegar aquela caixinha né? Com uma lágrima à cair, pagou e levou a caixinha direto para casa onde ela embrulhou o anel, cheia de dedos, A noite logo chega e Madalena mal consegue dormir. Chega o tal esperado dia, o dia de entregar-lhe o anel. Sentada em sua velha poltrona Madalena espera Clarinha, que parece já saber como aquele momento é especial para a avó e senta em seu colo. Não havia ninguém que não se emocionasse com aquele momento tão bonito, tão bonito e que passou tão rápido, logo Clarinha já estava correndo pela casa com os amiguinhos, mas agora sim, agora Madalena podia sentar em sua poltrona e pensar em tia Ruth. Ela enfim chora.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Dúvida

 Talvez seja bem isso, talvez as pessoas tenham razão, talvez eu nem ao menos saiba quem sou, mas honestamente? eu não me importo, não mais. Hoje eu sei que o 'não saber' também existe e disso, eu tenho certeza.
 Hoje pela manhã, o cheiro de mato trazido pelas lágrimas do céu, trouxe-me uma velha nostalgia, as vezes eu sinto que me falta algo, mas eu não sei o que. Sinto-me triste e pela metade muitas vezes ao ver certas coisas, muitas vezes de outras épocas, é como se realmente eu não pertencesse a esse novo mundo. Eu apenas gostaria de abrir meus olhos e acordar dos meus sonhos infantis, mas sem eles eu certamente seria só mais uma pessoa, cheia de mim, orgulhosa e até muito normal. Mas não, não é isso que sou, não posso acordar de meus sonhos, porque eles fazem parte de mim e sem eles eu não seria completa.
 O mundo dança, na mais perfeita sintonia com universo, é tudo perfeito e só não nos damos conta de que tudo é livre, porque simplemente não nos deixamos ser livres, não nos deixamos sentir o cair da chuva sobre nós, estamos sempre tentando nos "proteger" dela, não nos deixamos comer o que queremos pra fazer parte do conceito de "bonito". Bonito é ser livre, essa é mais plena e pura beleza, deixe-se ficar em sintonia com o universo, deixe se dançar com o vento, deixe-se sentir a chuva, seja a hora que ela queira cair, deixe-se ser livre, ame-se, o amor não está mais presente em nossas vidas, porque não o deixamos mais nascer. Começe seu dia descobrindo seus novos prazeres. Então você também entenderá o quão linda pode ser suas dúvidas e que também fazem parte de você. Acredite.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

A dimensão da existencia humana, segundo uma adolescente

 Quero, mas sinto que não posso, estou presa aos meus sonhos, a ilusões constantes que inibem o mal da realidade, me trazendo o sossego, esse interminavél delírio.
 Me vejo sempre por trás das cortinas, sinto medo de entrar em cena, repleta de receios, onde não se pode mudar o que se faz. Isso chama-se vida e apesar de todos passarmos por momentos confusos, nunca deixarei de sentir pena de mim mesma, me fazendo acreditar nesse tal e indescritivél medo.
 Vivo à procura da eterna perfeição, tudo me enoja, enoja, porém fascina.. Quão fabuloso pode ser a vida? Qual é esse segredo de se deliciar com o simples fato de existir? seria irônia dizer que é futil?
  Estou farta dessas futilidades e mentiras, as pessoas vivem suas mentiras e acreditam com tanto poder nelas, que passam a existir. Devo então aceitar como sou,  e lutar por 'ser' e não por 'ter'. É, talvez eu seja feliz e boa fazendo o que gosto.. mas quem nos garante que isso nos trará felicidade? Eu garanto.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

A Última Valsa

 Ah, se naquela noite eu a tivesse ouvido pela última vez. Se diante daquela situação, eu em meus momentos de devaneios, encontrasse dentro de mim a força de enxergar além do meu egoísmo. Mas não, não fui capaz de ver como um ser racional, não fui forte o bastante para escutá-la. Eu queria era me divertir, sair e beber todas! Quem dera poder voltar e fazer tudo ser diferente...
 Aquela noite, onde a chuva não cessava, onde os carros sairam disparados de jovens alcoolizados. Aquela noite em que ela, a figura materna e sagrada, me pediu pra que não a deixasse sozinha. Malditos 'amigos' que me fizeram negar seu pedido, mal sabia eu o que me aguardava. Depois da festa, todos saímos e eu a deixei, só não sabia que aquele olhar triste, seria o último olhar de minha mãe para mim! o carro em que ela voltou para casa capotou e eu a perdi, perdi pra sempre. Ah, quanto ódio brotava do meu peito, como fui um tolo e egoísta. Era minha mãe quem eu tinha perdido, nada mais fazia sentido na minha vida... mas eu lembro, naquela festa, eu a tirei para dançar na valsa, e pude notar que ela estava toda orgulhosa e cheia de sí.
Somente esse é o meu consolo, minha última lembrança sempre será a valsa, que foi com ela e pra ela.

O Espelho

 Sentada em frente ao presente mais brilhante de seu último aniversário, Clarice o olha fixamente, seus olhos nao podiam se mover, ela estava sonhando. Era um espelho antigo, dado por sua avó que há muito não o usava. Transtornada por aquela imagem que tanto se asemelhava a ela própria, Clarice sente vontade de gritar, mas sua voz nao saí, seus olhos começam a lacrimejar, sua boca seca parece entupida por estopas que a impede de falar. Eis que surge uma  luz, mas nao era qualquer luz, era uma luz que refletia no espelho, antes de conseguir entender o que se passava escuta: 'anda menina, que o jantar vai esfriar'. Era sua mãe, mas como? como sua mãe interompera aquele sonho? Naquele momento sentiu como se tudo não tivesse passado de uma ilusão, mas no fundo ela sabia que era mais que isso. Só nao sabia explicar. Mas até isso acontecer, ela tinha que jantar.

O Encontro

 Era sexta-feira, embora primavera era um dia triste. As flores quase nem apareciam. Nuvens cinzas ameaçavam chuva e a igreja da praça dava suas seis badaladas das dezoito horas. As pessoas corriam com pressa para a missa da tarde, daquela tarde que mais parecia noite. Quase não havia pessoas naquela praça, mas um velho me chamou atenção.  Ele estava sentado sozinho, próximo ao lago com ponte da qual ele nao tirava os olhos. Parecia nervoso, ansioso, pois nao parava de mecher as pernas e de esfregar uma mão na outra.
 Quando ele se levanta com um pequeno sorriso parecia tranquilizado, mas não estava. Um rapaz fardado caminha em direção a ele, estava todo sujo e parecia cansado. Era seu filho que não via há anos. Os dois selam o encontro com um forte abraço, mas segundos depois o rapaz o deixa ali sozinho de novo e parte. Pude notar a tristeza em sua face, e tentando lutar contra aquela situação aparentemente dificil, o velho senta num banco frio e deixa uma lágrima escorrer. Começa a chover.